Escrita empática – o desafio da positividade
Já imaginou um Museu voltado para a empatia? Pode parecer estranho, mas esse Museu existe e está no Brasil, é o Museu da Empatia, projeto apoiado pelo Intermuseus e as instalações levam o visitante a se colocar no lugar de outra pessoa e perceber, sentir, imaginar o que ela é e vive. Além da tolerância, resiliência, a empatia é uma característica essencial para as relações sociais, sejam motivadas pela oralidade ou pela escrita. Em ambiente empresarial, a empatia fortalece os laços e investe na positividade.
Nesta matéria, vamos identificar duas características da escrita empática e positiva.
Nunca se escreveu tanto nos aplicativos de dispositivos móveis como hoje. Mas… é uma escrita qualitativa? Na maior parte das mensagens, o imediato prevalece e as respostas são objetivas, na medida do possível, pois é demorado teclar, são diversas mensagens e é mais seguro enviar uma mensagem curta, com foco no objetivo, sem rodeios ou mesmo diminuindo ao máximo o gerenciamento da relação entre os interlocutores.
Então, vamos a duas possibilidades para tornar a escrita mais empática.
1. Evite usar palavras de sentido negativo ou que estabeleçam relações negativas.
A tendência em uma comunicação, seja escrita ou falada, é a utilização de negações, com a finalidade de reafirmar a ideia defendida. Veja:
“Os recursos do governo não devem ser utilizados nessa área.” Aqui, a negação é expressa pelo “não” e a ideia defendida acaba fora do texto efetivamente realizado e cabe ao interlocutor a compreensão de que uma outra área deveria ser a escolhida para a utilização dos recursos governamentais.
Em uma outra versão, ficaria assim:
“Os recursos do governo seriam muito bem aplicados na área da saúde.” A informação aparece claramente e o interlocutor é chamado a manter o foco no que é efetivamente discutido.
Além da negação mais óbvia, o “não”, evite: mas, sequer, negativo, problema, ruim etc
A sugestão é a seguinte: escreva o seu texto, sem se preocupar com as negações. Quando terminar, revise cada palavra e frase atentamente, verificando somente se há a presença de palavras negativas.
2. Descreva, não dê opinião.
Outra fonte corrente de embates escritos e, por vezes, desnecessários, é a opinião quando o ideal seria a descrição do fato para, depois, opinar e fortalecer o ponto de vista, explicitando exatamente o que deveria ser compreendido pelo interlocutor.
Essa também é outra tendência nos discursos, pois a opinião funciona como um recurso de autoridade e liberdade, algo muito repetido pelo adágio “Respeite a minha opinião”.
A subjetividade da linguagem direcionaria todas as nossas escolhas vocabulares e de construção linguística para a presença da opinião em todos os discursos, de forma mais presente ou não, mas sempre existente. Não é esse o foco das orientações neste texto, então vamos considerar que seja possível atenuar o grau de opinião em um texto, a tal ponto que a comunicação seja mais empática e colaborativa.
Se lemos: “A leitura é um excelente recurso para o crescimento pessoal.”
A presença do discurso opinativo está marcada pelo “excelente”, principalmente, mas note: não basta excluir o “excelente” e ficaria tudo bem… É preciso tornar o discurso efetivamente descritivo. Detalhar o que seria “excelente” e, aí sim, poderíamos até descartar a palavra. Uma versão possível
“A leitura de livros de conteúdos e narrativas diversas nos mostram experiências, sentimentos, vivências e finais felizes e infelizes, antecipando o que poderíamos viver. É uma forma de termos outros instrumentos de avaliação de nossas decisões, sem que tenhamos que efetivamente vivenciar todas as possibilidades. Isso também é aprendizado e desenvolvimento pessoal.”
Então, com esses dois recursos, evitar palavras negativas e descrever detalhadamente a sua opinião, seu texto mais leve e direcionado para a colaboração do leitor, abrindo espaço para outros pontos de vista. Escrita empática é uma necessidade em tempos de polarização.
Escrito por Elizabeth Del Nero, em colaboração com Victória Ferreira Luiz Malaquias, estudante de Gestão Comercial (UNG).
Se quiser ler mais sobre possibilidades e rumos práticos da escrita contemporânea e sobre opinião e descrição, há um livro na praça – Escrita Imediata: recursos possíveis e úteis também para textos não tanto imediatos…, de Elizabeth Del Nero Sobrinha.
Se você testar essas duas dicas e quiser nos contar o resultado de sua escrita empática, mande um e-mail para a gente e vamos conversar.